É só uma picadinha
As vacinas injetáveis são uma fonte de dor na infância. Não só para as crianças, mas também para os pais que precisam ver a carinha de sofrimento dos pequenos na hora de levar a picada. Estudos mostram que aproximadamente 40% dos pais se preocupam com a dor durante a vacinação e 95% desejam aprender como reduzir a dor durante este procedimento.
Não saber lidar com a dor no momento da vacinação pode levar à hesitação para administração das vacinas e pode impactar no futuro comportamento de buscar e decidir sobre cuidados de saúde da criança.
Mas, para a alegria de todos, existem estratégias baseadas em evidências para administrar e diminuir a dor no momento da vacinação que são viáveis, culturalmente aceitáveis e podem ser adotadas em países de alta, média e baixa renda.
A Organização Mundial da Saúde publicou, em 2015, recomendações para os programas nacionais de imunização sobre as intervenções para reduzir a dor, a angústia e o medo no momento da vacinação. Para as crianças, recomendou-se a presença dos pais ou cuidadores, e a prática da amamentação.
Pesquisas investigaram a efetividade da amamentação em dois momentos:
1. Durante a vacinação
Quando praticada durante a vacinação injetável, a amamentação pode reduzir o estresse por meio de vários mecanismos, incluindo conforto, sucção, distração, ingestão de açúcares e outras substâncias que podem ter, individualmente e em conjunto, efeitos de alívio da dor.
2. Antes da vacinação
Quando praticada antes da vacinação, a amamentação pode reduzir a angústia via saciedade do bebê, que pode promover a calma durante os procedimentos que utilizam agulhas.
Ensaios clínicos randomizados mostram que a amamentação de recém-nascidos durante procedimentos dolorosos reduz a dor. Os mecanismos são considerados multifatoriais e incluem sucção, contato pele a pele, calor, som e cheiro da mãe e, possivelmente, opiáceos endógenos presentes no leite materno.
Uma revisão sistemática, que incluiu 10 ensaios clínicos envolvendo 1066 crianças de 28 dias a 12 meses de vida, identificou que a amamentação teve maior impacto na redução de respostas comportamentais de tempo de choro e de dor durante a vacinação, em comparação com ausência de intervenção, administração de água, glicose oral e outras bebidas adoçadas, carinho, anestésico tópico e massagem.
Um estudo piloto de neuro-imagem avaliou as respostas corticais e comportamentais de 30 recém-nascidos, saudáveis e submetidos a um procedimento doloroso (punção no calcanhar), durante duas intervenções supostamente analgésicas não farmacológicas: a amamentação e administração de solução de glicose.
Os autores concluíram que a amamentação está associada à ativação cortical generalizada e pode atuar como analgésico por meio de estimulação multissensorial, possivelmente oprimindo a percepção da dor, enquanto que nenhuma variação significava na atividade cortical surgiu com administração da solução de glicose.
Esses resultados apontam que a amamentação consiste em uma medida eficaz contra a dor, que também pode ser utilizada em outros procedimentos que exigem punção, como o teste do pezinho e a coleta de sangue para exames.
Fica a dica para os pais
- A presença dos pais ou responsáveis durante e após o procedimento de vacinação.
- O incentivo a lactante em amamentar a criança imediatamente antes e durante a administração de vacinas injetáveis.
- Se houver vacinas orais e injetáveis a serem administradas na mesma visita ao serviço de saúde, administrar primeiro a vacina oral e posteriormente, deve-se proceder a amamentação para que seja realizada a administração das vacinas injetáveis.
A amamentação deve ser incentivada durante o procedimento da vacinação, pois as evidências disponíveis apontam que se trata de uma intervenção não farmacológica eficaz na redução da dor e no estresse das crianças. E dos pais e mães também.
Matéria: NOTA TÉCNICA Nº 39/2021-COCAM/CGCIVI/DAPES/SAPS/MS
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